segunda-feira, 26 de março de 2007

Sophia Loren e as lentes progressivas

Sophia Loren


Há uns anos (muitos), o meu pai disse-me que estava um filme da Sophia Loren em re-exibição que valia a pena ver. Era o Casamento á Italiana, em que ela contracenava com o Marcello Mastrioanni. Fui ver.
Lembro-me que na altura gostei moderadamente do filme (opinião rectificada para melhor alguns anos mais tarde), e a minha opinião sobre a Sophia, que eu nunca vira antes, foi de que a tipa tinha uns grandes olhos, uma grande boca e e as restantes partes do corpo a condizer (110-60-110). Resumindo, não fazia o meu género, era só uma gaja boa e mai’nada. O que não era muito lisonjeiro
Há tempos atrás comecei a pensar em ir ao oftalmologista, porque via os amigos tremidos ao longe e tinha dificuldades em ler aquelas letras pequeninas nos rodapés dos livros. E lá fui numa tarde de chuva agreste, cats and dogs e tal, e já depressivamente a prever que ia sair dali com uns óculos como os do Woody Allen. Depois de uma forte esguichadela de ar em cada olho (a do primeiro eu não estava à espera e apanhei um susto dos antigos, a do segundo foi uma trabalheira para a auxiliar da médica me conseguir acertar) e de um exame completo, a médica disse-me que era vista cansada, coisa própria da idade, e que não havia qualquer outro problema, que bastava usar uns óculos de lentes progressivas e que iria passar a ver muito melhor.
Aquela referência à idade desagradou-me um pouco, as pessoas deviam aprender a ser um pouco mais diplomáticas, mas lá fui encomendar os óculos que me custaram os olhos da cara
Hoje, olho para a Sophia Loren num documentário do Biography Channel e vejo-a com outros olhos. Acho-a uma mulher cheia de classe.
Veja-se como uns caríssimos óculos com lentes progressivas nos podem mudar as perspectivas!

 

O Maior Português?

Passa-se o Telejornal, mais a grande Pitonisa da RTP (espero a qualquer momento que lhe chegue de Hollywood a proposta milionária para que escreva um guião original para um filme de ficção baseado na realidade portuguesa encenada de modo credível).
Segue-se um felino relevante, mas o que interessa mesmo é o que vem a seguir, a confirmação do que toda a gente há muito suspeitava. E logo as primeiras palavras da apresentadora corroboravam que as suspeitas não eram infundadas. Tratava-se de uma luta, digamos assim, entre duas perspectivas anti-democratas.
Li alguma coisa do que se disse sobre o tipo de programa, entre outras opiniões de que era um absurdo por comparar figuras incomparáveis (Mário Soares), que não tinha pés nem cabeça (Pacheco Pereira), pretendendo-se com tais afirmações retirar-lhe importância. Em parte concordo com as críticas, o que não obsta a que continuasse curioso com o desfecho. Afinal, ainda não subi ao Olimpo e, pobre de mim, continuo a interessar-me por estas disputas terrenas.
O desfecho foi interessante e dá-nos vastos motivos de reflexão, um dos quais será o porquê de quase se ignorar quem abriu o país ao mundo, quer através da navegação, quer através das letras, e, ao inverso, se elegerem pessoas que o fecharam á modernidade, quer de forma efectiva, quer de forma tentada. Ouvi que terá sido em muitos casos, o voto em Salazar, de protesto contra o status-quo. Eu vou mais pelo ressabiamento de alguma direita que, entrincheirada quer no CDS, quer no PSD (e mesmo nalgumas franjas do P.S.), nunca aceitou como definitiva a mudança de rumo, mas que tem vergonha de se expor publicamente em manifestações da direita radical. E a esta hora, certamente estarão a comemorar uma vitória de que o único retorno será uma pequena satisfação interior.
Ao mesmo tempo, os militantes de Cunhal estarão tomados por um misto de satisfação por verem o seu guru à frente dos fundadores da nacionalidade, e de frustração por, ainda não ter sido desta que a mobilização os fez ganhar, mesmo que na “secretaria”, o que nunca conseguiram no terreno. A postura trauliteira da sua defensora oficial durante o debate, disse-nos muito do que nos esperava em caso dessa vitória alguma vez ter acontecido.
No final, surpreendente mesmo foi a colocação de Aristides Sousa Mendes. Ao que parece, pelo menos as qualidades humanitárias ainda são valorizadas.
Nota - Na revista Sábado da semana passada, dizia Ferreira Fernandes da falsidade da notícia da morte de Herman José. Na mesma revista, noticiava-se o abandono de Maria Vieira, por estar insatisfeita com a relevância do papel que lhe estava distribuído. Com efeito, fazer de ameixa e levar com uns tipos em cima de vez em quando, não lhe acrescenta nada ao currículo.
E penso: “Se ainda não o mataram, há pelo menos indícios, de que alguém o anda a tentar assassinar
 
sábado, 24 de março de 2007

A meu favor

Sombra - Raul Acevedo
A Meu Favor

A meu favor
Tenho o verde secreto dos teus olhos
Algumas palavras de ódio algumas palavras de amor
O tapete que vai partir para o infinito
Esta noite ou uma noite qualquer

A meu favor
As paredes que insultam devagar
Certo refúgio acima do murmúrio
Que da vida corrente teime em vir
O barco escondido pela folhagem
O jardim onde a aventura recomeça
(Alexandre O'Neil)